Marcela Turati foi reconhecida com o Prémio Maria Moors Cabot 2019, atribuído pela Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, pela sua excelência profissional e por promover, com as suas reportagens, um melhor entendimento interamericano.
É fundadora, com outros jornalistas, da rede Periodistas de a Pie e do portal de investigação Quinto Elemento Lab, colectivos que procuram defender a liberdade de expressão e apoiar o exercício do jornalismo em regiões pobres e perigosas.
A jornalista deu uma entrevista ao Knight Center, na qual falou do seu percurso profissional e das dificuldades enfrentadas no México para o exercício da profissão.
Para Turati, ser jornalista no país é um “desafio constante” e uma responsabilidade, equivalente a tornar-se “correspondente de guerra sem sair da sua terra”.
Desde 2008, que cobre casos de vítimas de violência, lidando regularmente com pessoas que têm familiares desaparecidos, testemunhas de massacres, entre outros. Como profissional, procura cobrir a violência a partir de uma abordagem de direitos humanos e o seu objectivo é continuar a contar estas histórias sem as normalizar.
O Observatório da Imprensa do Brasil, com o qual o CPI tem um acordo de parceria, publicou a entrevista com a jornalista no seu site.
Marcela Turati decidiu tornar-se jornalista na universidade, na mesma altura em que ponderava dedicar-se a uma organização de direitos humanos. Foi no jornal da instituição que deu os primeiros passos.
A jornalista investigou, em 2010, vários desaparecimentos de pessoas e o grande número de valas clandestinas existentes no México.
De todas as histórias que já cobriu, destaca as vítimas de violência, os sobreviventes e os familiares das vítimas, como sendo aquelas que mais a têm marcado.
E observa: “Para mim, talvez as pessoas que mais me comoveram, e com quem mais aprendi, foram as mães, as irmãs, as filhas de pessoas desaparecidas, porque as vejo lutando todos os dias, procurando seus familiares, tentando de diferentes formas, mudando leis, fazendo mobilizações, preparando-se em questões legais, tornando-se investigadoras quase particulares, aprendendo estratégias. (...) Com elas aprendi muitas coisas e, bem, sou muito grata porque elas me humanizaram.”
Turati faz referência, ainda, aos seus colegas assassinados no decurso do exercício da profissão naquele país. É o lado negro do próprio jornalismo que tem sido vítima de violência no México.
Em 2017, fundou o Quinto Elemento Lab, um laboratório de investigação e inovação jornalística, onde acompanha a concretização de reportagens de outros jornalistas, muitas delas com base em investigações profundas e arriscadas. Como consequência, a jornalista deixou de fazer reportagens semanais, passando a dedicar-se, maioritariamente, a projectos mais demorados e exigentes.
Mais informação em Observatório da Imprensa do Brasil.
Com as vagas de desinformação que começaram a circular “online” nos últimos anos, passou a ser necessário partilhar, com eficácia e clareza, as definições de “notícia” e de “jornalista”, para que o público consiga acompanhar as profundas transformações do mundo mediático, considerou Sabine Righetti num artigo publicado no“Observatório da Imprensa”, com o qual o CPI mantém um acordo de parceria.
Isto porque, explicou a autora, se, há dez anos, a produção noticiosa era um papel exclusivo do jornalista, que colaborava com títulos informativos, actualmente, qualquer um pode escrever um artigo, partilhando-o através das redes sociais.
Ou seja, hoje em dia, é preciso ressalvar que nem todo o utilizador da internet que partilha uma peça, de cariz informativo, pode ser considerado um jornalista. E que, por outro lado, nem todo o cidadão com actividade declarada como jornalística cumpre as normas deontológicas, confundindo-se, por vezes, com um activista.
Portanto, considera Righetti, há, agora, uma hibridização do conceito.
Por isso mesmo, definir quem é, ou não, um jornalista, é uma tarefa cada vez mais difícil de concretizar, explicou a autora. Isto porque, já nem os documentos legais são considerados válidos, perante o panorama actual.
Neste âmbito, Righetti recorda que, no Brasil, conceito de jornalismo foi definido por um decreto, de Março de 1979, que instituiu que a profissão de jornalista compreendia actividades como “redacção, condensação, titulação, interpretação, correcção ou coordenação de informação a ser divulgada” ou “comentário ou crónica, a serem partilhados através de quaisquer veículos de comunicação”.
Além disso, naquela época, a “empresa jornalística” era um elemento central da actividade. O jornalismo, então, era tudo aquilo feito nos “media” formais.
E mais: o exercício da profissão de jornalista, de acordo com a legislação, exigia o registo prévio no Ministério do Trabalho, mediante a apresentação do comprovativo de nacionalidade brasileira, do diploma de curso superior de jornalismo e da carteira de trabalho.
Em 2009, relembra a autora, o STF (Supremo Tribunal Federal) retirou a exigência do diploma para o exercício da profissão. Ainda assim, as empresas de jornalismo contratavam, na sua maioria, colaboradores especializados para fazer jornalismo.
Só que o jornalismo, continua Righetti, cada vez mais, começou a sair das “empresas jornalísticas” e ganhou outros espaços que a legislação das décadas de 1960 e 1970 jamais poderia ter previsto.
Os leitores de notícias podem dividir-se em seis categorias, dependendo das suas necessidades e interesses, concluiu um relatório do “Financial Times”, citado pelo"Laboratório de Periodismo”, cujas conclusões podem ajudar outros “media” a reter subscritores.
De acordo com o estudo, por norma, os cidadãos consultam os títulos informativos com um de seis objectivos: manterem-se actualizados, alargarem a sua contextualização sobre o mundo que os rodeia; educarem-se sobre um determinado tópico ou personalidade; divertirem-se através de artigos lúdicos ou actividades didácticas; inspirarem-se ao lerem histórias sobre alguém que superou adversidades; e seguirem as tendências do mundo ‘online’.
Assim, a fim de terem sucesso junto do público, explica o documento, os jornais devem identificar a categoria com a qual a maioria dos seus leitores se identifica, para que possam continuar a captar o seu interesse, gerando um maior número de subscrições e, consequentemente, mais receitas.
O “Financial Times” realizou esta experiência junto de três editoras distintas, ajudando-as a compreender aquilo que poderiam fazer para optimizar a interacção com o público.
A editora 1, por exemplo, concluiu que 40% dos artigos que produzia eram da categoria “actualize-me”, mas que estes geravam, apenas, 13% de visualizações de página. Por outro lado, os artigos da categoria “entretenimento” representavam 19% do total de artigos publicados, mas, geravam 43% das interacções.
Este espaço do Clube Português de Imprensa vai fechar para férias durante o mês de Agosto.
É uma opção adoptada desde o lançamento do site em Novembro de 2016.
Recorde-se que o site se divide em três grandes áreas de conteúdos, com uma coluna de opinião a cargo de jornalistas e investigadores das Ciências de Comunicação, resumos informativos e propostas de reflexão sobre as grandes questões que se colocam hoje na paisagem mediática e à função jornalística.
O site do CPI conta, ainda, com as parcerias do Observatório de Imprensa do Brasil e da Asociacion de la Prensa de Madrid, dos quais publica regularmente trabalhos de análise em diferentes perspectivas, desde a ética profissional aos efeitos das mudanças tecnológicas.
O CPI, associação reconhecida de Utilidade Pública fundada em Dezembro de 1980, integra o Prémio Helena Vaz da Silva, instituído conjuntamente com o CNC-Centro Nacional de Cultura e Europa Nostra, e lançou em 2017 o Prémio de Jornalismo da Lusofonia, em parceria com o Jornal Tribuna de Macau e a Fundação Jorge Álvares.
O Prémio de Jornalismo da Lusofonia, cuja atribuição foi interrompida devido à pandemia, destina-se a jornalistas e à imprensa de língua portuguesa de todo o mundo, "em suporte papel ou digital", de acordo com o regulamento.
Ao concluir mais um ciclo de actividade do Clube e do site em particular, é muito gratificante saber que, apesar dos sobressaltos e das incertezas que afectam os media, o número de frequentadores habituais deste espaço tem vindo sempre a aumentar e a consolidar-se, designadamente, na sua visibilidade internacional, medida pela Google Analytics.
Aos associados, amigos e visitantes deste site o CPI deseja boas férias! E até Setembro.