A rede internacional Cartel Project -- constituída por 60 jornalistas, de 25 publicações internacionais -- está a dar continuidade ao trabalho desenvolvido por jornalistas mexicanos assassinados.
Este trabalho inclui a investigação da jornalista Regina Martinez -- assassinada em 2012 -- que estava a desenvolver reportagens sobre a ligação entre os desaparecimentos de cidadãos de Veracruz e o governo local.
Martinez não foi a primeira repórter a ser morta no México, mas o seu homicídio fez com que o país passasse a ser considerado um dos mais perigosos para o exercício da profissão.
De acordo com o Comité para a Protecção de Jornalistas (CPJ), desde 2000, foram assassinados 119 jornalistas no México. Além disso, 90% dos casos ficaram por resolver. Veracruz é um dos Estados com maior incidência.
“O caso Regina é importante porque constitui um antes e um depois para a imprensa", disse Jorge Carrasco, editor-chefe da revista noticiosa “Proceso”, para a qual Martinez colaborava. "Quando matam um jornalista, é como se estivessem a colocar uma bomba numa redacção para causar terror, para intimidar, para dizer: não se metam connosco".
De acordo com relatórios internacionais, os jornalistas de investigação são, principalmente, visados pelos “atacantes”. O Cartel Project apurou, por exemplo, que as actividades desenvolvidas por Martinez eram controladas por uma rede de espionagem altamente sofisticada, que reúne informações pessoais sobre estes profissionais.
Nos últimos meses da sua vida, Martinez viveu, assim, num “clima de terror”, sem conseguir dormir, ou sair de casa.
De acordo com os relatórios do Cartel Project, a vigilância a jornalistas começou na década de 1990. Contudo os profissionais consideram que a sua actividade foi intensificada entre os anos de 2010 e 2016, época em que Javier Duarte era governador do Estado de Veracruz.
Duarte ficou conhecido por se opor ao escrutínio das associações de direitos humanos e do próprio governo federal.
“Como jornalista da ‘Proceso’, Regina Martínez foi, automaticamente, considerada uma inimiga”, afirmou Jorge Rebolledo, um consultor de segurança radicado na Cidade do México. "As redes de poder em Veracruz são muito complicadas, a relação entre o crime organizado e o governo é cinzenta. Não é fácil perceber quem é mau ou bom, o que vulnerabiliza os jornalistas de investigação".
Em 2018, Andrés Manuel López Obrador, conhecido como Amlo, venceu as eleições presidenciais, sob o compromisso de transformar a política e erradicar a corrupção.
No entanto, a violência -- incluindo o assassinato de jornalistas -- continuou a aumentar, e Amlo tem sido acusado de incitar à hostilidade contra os “media”.
Em Novembro, Amlo afirmou que iria pedir a reavaliação do caso de Martinez. Por enquanto, contudo, o seu assassinato continua por resolver.
(Esta trabalho sobre a situação perigosa para os jornalistas no México foi realizado por Nina Lakhani (“the Guardian”), Dana Priest (“Washington Post”), e Paloma Dupont de Dinechin (“Forbidden Stories”)
Leia o artigo original em “Guardian”
Com as vagas de desinformação que começaram a circular “online” nos últimos anos, passou a ser necessário partilhar, com eficácia e clareza, as definições de “notícia” e de “jornalista”, para que o público consiga acompanhar as profundas transformações do mundo mediático, considerou Sabine Righetti num artigo publicado no“Observatório da Imprensa”, com o qual o CPI mantém um acordo de parceria.
Isto porque, explicou a autora, se, há dez anos, a produção noticiosa era um papel exclusivo do jornalista, que colaborava com títulos informativos, actualmente, qualquer um pode escrever um artigo, partilhando-o através das redes sociais.
Ou seja, hoje em dia, é preciso ressalvar que nem todo o utilizador da internet que partilha uma peça, de cariz informativo, pode ser considerado um jornalista. E que, por outro lado, nem todo o cidadão com actividade declarada como jornalística cumpre as normas deontológicas, confundindo-se, por vezes, com um activista.
Portanto, considera Righetti, há, agora, uma hibridização do conceito.
Por isso mesmo, definir quem é, ou não, um jornalista, é uma tarefa cada vez mais difícil de concretizar, explicou a autora. Isto porque, já nem os documentos legais são considerados válidos, perante o panorama actual.
Neste âmbito, Righetti recorda que, no Brasil, conceito de jornalismo foi definido por um decreto, de Março de 1979, que instituiu que a profissão de jornalista compreendia actividades como “redacção, condensação, titulação, interpretação, correcção ou coordenação de informação a ser divulgada” ou “comentário ou crónica, a serem partilhados através de quaisquer veículos de comunicação”.
Além disso, naquela época, a “empresa jornalística” era um elemento central da actividade. O jornalismo, então, era tudo aquilo feito nos “media” formais.
E mais: o exercício da profissão de jornalista, de acordo com a legislação, exigia o registo prévio no Ministério do Trabalho, mediante a apresentação do comprovativo de nacionalidade brasileira, do diploma de curso superior de jornalismo e da carteira de trabalho.
Em 2009, relembra a autora, o STF (Supremo Tribunal Federal) retirou a exigência do diploma para o exercício da profissão. Ainda assim, as empresas de jornalismo contratavam, na sua maioria, colaboradores especializados para fazer jornalismo.
Só que o jornalismo, continua Righetti, cada vez mais, começou a sair das “empresas jornalísticas” e ganhou outros espaços que a legislação das décadas de 1960 e 1970 jamais poderia ter previsto.
Os leitores de notícias podem dividir-se em seis categorias, dependendo das suas necessidades e interesses, concluiu um relatório do “Financial Times”, citado pelo"Laboratório de Periodismo”, cujas conclusões podem ajudar outros “media” a reter subscritores.
De acordo com o estudo, por norma, os cidadãos consultam os títulos informativos com um de seis objectivos: manterem-se actualizados, alargarem a sua contextualização sobre o mundo que os rodeia; educarem-se sobre um determinado tópico ou personalidade; divertirem-se através de artigos lúdicos ou actividades didácticas; inspirarem-se ao lerem histórias sobre alguém que superou adversidades; e seguirem as tendências do mundo ‘online’.
Assim, a fim de terem sucesso junto do público, explica o documento, os jornais devem identificar a categoria com a qual a maioria dos seus leitores se identifica, para que possam continuar a captar o seu interesse, gerando um maior número de subscrições e, consequentemente, mais receitas.
O “Financial Times” realizou esta experiência junto de três editoras distintas, ajudando-as a compreender aquilo que poderiam fazer para optimizar a interacção com o público.
A editora 1, por exemplo, concluiu que 40% dos artigos que produzia eram da categoria “actualize-me”, mas que estes geravam, apenas, 13% de visualizações de página. Por outro lado, os artigos da categoria “entretenimento” representavam 19% do total de artigos publicados, mas, geravam 43% das interacções.
Este espaço do Clube Português de Imprensa vai fechar para férias durante o mês de Agosto.
É uma opção adoptada desde o lançamento do site em Novembro de 2016.
Recorde-se que o site se divide em três grandes áreas de conteúdos, com uma coluna de opinião a cargo de jornalistas e investigadores das Ciências de Comunicação, resumos informativos e propostas de reflexão sobre as grandes questões que se colocam hoje na paisagem mediática e à função jornalística.
O site do CPI conta, ainda, com as parcerias do Observatório de Imprensa do Brasil e da Asociacion de la Prensa de Madrid, dos quais publica regularmente trabalhos de análise em diferentes perspectivas, desde a ética profissional aos efeitos das mudanças tecnológicas.
O CPI, associação reconhecida de Utilidade Pública fundada em Dezembro de 1980, integra o Prémio Helena Vaz da Silva, instituído conjuntamente com o CNC-Centro Nacional de Cultura e Europa Nostra, e lançou em 2017 o Prémio de Jornalismo da Lusofonia, em parceria com o Jornal Tribuna de Macau e a Fundação Jorge Álvares.
O Prémio de Jornalismo da Lusofonia, cuja atribuição foi interrompida devido à pandemia, destina-se a jornalistas e à imprensa de língua portuguesa de todo o mundo, "em suporte papel ou digital", de acordo com o regulamento.
Ao concluir mais um ciclo de actividade do Clube e do site em particular, é muito gratificante saber que, apesar dos sobressaltos e das incertezas que afectam os media, o número de frequentadores habituais deste espaço tem vindo sempre a aumentar e a consolidar-se, designadamente, na sua visibilidade internacional, medida pela Google Analytics.
Aos associados, amigos e visitantes deste site o CPI deseja boas férias! E até Setembro.