José Eduardo Moniz
Quarenta anos passaram, mas a essência do Jornalismo mantém-se. A busca da verdade e a obrigação de a divulgar constituem coordenadas elementares de uma actividade que é seguramente das mais nobres que existem.
Pode ter evoluído a forma de transmitir o que a realidade mostra, ou o que sobre ela se desvenda, mas aqueles que são os pressupostos do Jornalismo sério e independente permanecem insusceptíveis de qualquer discussão.
Mais do que nunca, com a massificação da Informação que os meios digitais introduziram, a necessidade de um olhar atento, frontal, fiscalizador e sem medo da denúncia impõe-se.
A separação do trigo e do joio, da Notícia e da propaganda, da verdade e da mentira, do que é real e do que se inventa nunca se revelou tão essencial e tão desesperadamente importante.
O Clube de Imprensa nasceu era eu um jovem jornalista a dar os primeiros passos em Televisão, depois de vários anos a trabalhar no Diario Popular. A intenção principal era (e é) prestigiar o Jornalismo e os que o exercem.
Tive o privilégio de trabalhar numa Redacção onde conviviam alguns dos melhores jornalistas de que Portugal dispunha, na altura, e que, já antes do 25 de Abril, constituía alfobre de gente corajosa na diferença, sem medo na escrita e atrevida no habilidoso desafio de ludibriar a censura.
Se, na essência, hoje, os imperativos jornalísticos são os mesmos, na prática, aquilo com que os profissionais actualmente se defrontam, é um ambiente recheado de condicionamentos dramáticos.
As empresas que se dedicam à Comunicação Social, de uma forma geral, sofrem constrangimentos vários, o menos importante dos quais não é certamente a dimensão de um mercado cada vez mais exíguo e empobrecido. O enfraquecimento dessas empresas arrasta situações de inconstância accionista, atrai investidores dissociados do meio e gera bolsas de precariedade cada vez mais amplas.
A digitalização abalou todo o sistema como uma faca quente a cortar manteiga, vulnerabilizando-o no confronto com a voracidade do mercado. As exigências estrangulantes e as pressões várias dos sectores sociais, económicos e políticos perante a incapacidade reguladora do Estado fizeram (ou fazem) o resto. O velho modelo, imprevidente na percepção de que o futuro chega todas as manhãs, desabou, incapaz de se renovar perante o imediatismo transportado nas asas da tecnologia.
Sou dos que confiam na infinita capacidade humana de se reinventar.
Nessa perspectiva, acreditar na percepção de que o Jornalismo que aposta na seriedade e luta pela verdade é uma ferramenta essencial numa sociedade democrática e que a credibilidade tem um valor real, significativo e diferenciador no mercado, deveria ser inspirador para investidores, empresários e profissionais.
A aposta na investigação, a potenciação da arma que a curiosidade como instrumento de trabalho representa, a coragem de arrostar quaisquer interesses, por mais poderosos ou subterrâneos que sejam, continuam, hoje como ontem, a assumir-se como determinantes para o exercício da missão de informar, com honestidade, com frontalidade e com transparência.
Só tem medo do Jornalismo quem tem algo a ocultar.
Só receia um Jornalista quem tem medo da verdade.
Precarizar o Jornalismo é uma maneira de enfraquecer a democracia.
Com as vagas de desinformação que começaram a circular “online” nos últimos anos, passou a ser necessário partilhar, com eficácia e clareza, as definições de “notícia” e de “jornalista”, para que o público consiga acompanhar as profundas transformações do mundo mediático, considerou Sabine Righetti num artigo publicado no“Observatório da Imprensa”, com o qual o CPI mantém um acordo de parceria.
Isto porque, explicou a autora, se, há dez anos, a produção noticiosa era um papel exclusivo do jornalista, que colaborava com títulos informativos, actualmente, qualquer um pode escrever um artigo, partilhando-o através das redes sociais.
Ou seja, hoje em dia, é preciso ressalvar que nem todo o utilizador da internet que partilha uma peça, de cariz informativo, pode ser considerado um jornalista. E que, por outro lado, nem todo o cidadão com actividade declarada como jornalística cumpre as normas deontológicas, confundindo-se, por vezes, com um activista.
Portanto, considera Righetti, há, agora, uma hibridização do conceito.
Por isso mesmo, definir quem é, ou não, um jornalista, é uma tarefa cada vez mais difícil de concretizar, explicou a autora. Isto porque, já nem os documentos legais são considerados válidos, perante o panorama actual.
Neste âmbito, Righetti recorda que, no Brasil, conceito de jornalismo foi definido por um decreto, de Março de 1979, que instituiu que a profissão de jornalista compreendia actividades como “redacção, condensação, titulação, interpretação, correcção ou coordenação de informação a ser divulgada” ou “comentário ou crónica, a serem partilhados através de quaisquer veículos de comunicação”.
Além disso, naquela época, a “empresa jornalística” era um elemento central da actividade. O jornalismo, então, era tudo aquilo feito nos “media” formais.
E mais: o exercício da profissão de jornalista, de acordo com a legislação, exigia o registo prévio no Ministério do Trabalho, mediante a apresentação do comprovativo de nacionalidade brasileira, do diploma de curso superior de jornalismo e da carteira de trabalho.
Em 2009, relembra a autora, o STF (Supremo Tribunal Federal) retirou a exigência do diploma para o exercício da profissão. Ainda assim, as empresas de jornalismo contratavam, na sua maioria, colaboradores especializados para fazer jornalismo.
Só que o jornalismo, continua Righetti, cada vez mais, começou a sair das “empresas jornalísticas” e ganhou outros espaços que a legislação das décadas de 1960 e 1970 jamais poderia ter previsto.
Os leitores de notícias podem dividir-se em seis categorias, dependendo das suas necessidades e interesses, concluiu um relatório do “Financial Times”, citado pelo"Laboratório de Periodismo”, cujas conclusões podem ajudar outros “media” a reter subscritores.
De acordo com o estudo, por norma, os cidadãos consultam os títulos informativos com um de seis objectivos: manterem-se actualizados, alargarem a sua contextualização sobre o mundo que os rodeia; educarem-se sobre um determinado tópico ou personalidade; divertirem-se através de artigos lúdicos ou actividades didácticas; inspirarem-se ao lerem histórias sobre alguém que superou adversidades; e seguirem as tendências do mundo ‘online’.
Assim, a fim de terem sucesso junto do público, explica o documento, os jornais devem identificar a categoria com a qual a maioria dos seus leitores se identifica, para que possam continuar a captar o seu interesse, gerando um maior número de subscrições e, consequentemente, mais receitas.
O “Financial Times” realizou esta experiência junto de três editoras distintas, ajudando-as a compreender aquilo que poderiam fazer para optimizar a interacção com o público.
A editora 1, por exemplo, concluiu que 40% dos artigos que produzia eram da categoria “actualize-me”, mas que estes geravam, apenas, 13% de visualizações de página. Por outro lado, os artigos da categoria “entretenimento” representavam 19% do total de artigos publicados, mas, geravam 43% das interacções.
Este espaço do Clube Português de Imprensa vai fechar para férias durante o mês de Agosto.
É uma opção adoptada desde o lançamento do site em Novembro de 2016.
Recorde-se que o site se divide em três grandes áreas de conteúdos, com uma coluna de opinião a cargo de jornalistas e investigadores das Ciências de Comunicação, resumos informativos e propostas de reflexão sobre as grandes questões que se colocam hoje na paisagem mediática e à função jornalística.
O site do CPI conta, ainda, com as parcerias do Observatório de Imprensa do Brasil e da Asociacion de la Prensa de Madrid, dos quais publica regularmente trabalhos de análise em diferentes perspectivas, desde a ética profissional aos efeitos das mudanças tecnológicas.
O CPI, associação reconhecida de Utilidade Pública fundada em Dezembro de 1980, integra o Prémio Helena Vaz da Silva, instituído conjuntamente com o CNC-Centro Nacional de Cultura e Europa Nostra, e lançou em 2017 o Prémio de Jornalismo da Lusofonia, em parceria com o Jornal Tribuna de Macau e a Fundação Jorge Álvares.
O Prémio de Jornalismo da Lusofonia, cuja atribuição foi interrompida devido à pandemia, destina-se a jornalistas e à imprensa de língua portuguesa de todo o mundo, "em suporte papel ou digital", de acordo com o regulamento.
Ao concluir mais um ciclo de actividade do Clube e do site em particular, é muito gratificante saber que, apesar dos sobressaltos e das incertezas que afectam os media, o número de frequentadores habituais deste espaço tem vindo sempre a aumentar e a consolidar-se, designadamente, na sua visibilidade internacional, medida pela Google Analytics.
Aos associados, amigos e visitantes deste site o CPI deseja boas férias! E até Setembro.