Os paradigmas contemporâneos da comunicação são caracterizados por dois aspectos-chave, extensíveis a todas as dimensões da mediação em rede: a “hiper-aceleração” dos fluxos comunicacionais, e a “hiper-abundância” de conteúdos.
Este novo modelo verifica-se tanto na esfera da sociabilidade – através das redes e “media” sociais –, como na esfera noticiosa – com cada vez mais fontes de informação –, e reflecte-se, em ambos os casos, no aumento do consumo de vídeo, através dos mais variados ecrãs.
Esta realidade foi, agora, analisada pelo Obercom que, através do relatório “Audiovisual 2022 – Paradigmas de consumo e de evolução da indústria em Portugal e Europa”, procurou identificar os principais traços dessa identidade contemporânea.
Conforme recordou o Obercom, a “nova identidade audiovisual” caracteriza-se, sobretudo, pelo abandono do cabo, e pela insurgência do “streaming”, que começou por dominar o sector do entretenimento e está, agora, a dar os primeiros passos no mundo informativo.
Através do método de catálogo, estas plataformas “on demand” distinguem-se por oferecerem uma grande diversidade de conteúdos, que podem ser consumidos a qualquer hora, e em qualquer lugar.
Ou seja, graças ao “streaming”, os telespectadores deixaram de depender da curadoria dos canais de televisão, e passaram a poder estabelecer aquilo que querem ver, e quando querem fazê-lo.
Além disso, ao contrário do que acontece na televisão tradicional, os utilizadores recebem sugestões com base nas suas preferências, que são analisadas por algoritmos de Inteligência Artificial.
A recolha de dados dos utilizadores, a nível individual, apresenta-se, assim, como uma diferença fundamental entre a distribuição tradicional de televisão e o “streaming” na era digital.Isto porque, embora a televisão tivesse ao seu dispor dados relativos à popularidade geral do conteúdo apresentado, não era possível monetizar esses dados ao nível individual. Por isso mesmo, a publicidade era utilizada como a principal forma de obter rendimentos.
Neste âmbito, o Obercom recorda que, embora alguns serviços de “streaming” recorram à publicidade para financiar o seu funcionamento – como é o caso do Youtube – a grande maioria introduziu modelo de negócio Subscription Video on Demand (SVOD).
A Subscription Video on Demand (SVOD) foi adoptada por todas as grandes plataformas – a Netflix, Apple TV, Disney +, Amazon Prime, HBO, etc. – e consiste na oferta de um serviço, através de uma subscrição monetária, que permite aos consumidores acederem a um catálogo de conteúdos.
Ao contrário dos serviços de “streaming” de música, que apresentam catálogos de conteúdos semelhantes, as plataformas audiovisuais tendem a apresentar uma reduzida sobreposição de ofertas.
Deste modo, as plataformas audiovisuais tendem a distinguir-se mais
pelo conteúdo presente na sua plataforma, do que pelas suas diferentes características e funcionalidades.
Isto, sublinhou o Obercom, levou as plataformas a dedicarem-se à produção de novos filmes e séries. O maior exemplo disso mesmo é a Netflix, cuja maioria do catálogo (58%) consiste em conteúdos originais.
Com todas estas inovações, o “streaming” tem conseguido renovar as suas audiências, captando a atenção das gerações mais jovens. Como tal, outros sectores da comunicação procuraram investir neste tipo de serviços, uma vez que conquistar um novo público, que seja leal aos seus conteúdos durante vários anos, é um dos principais objectivos de muitas empresas mediáticas.
Em Portugal, isto verificou-se com a criação da Opto, a plataforma de “streaming” da SIC, que disponibiliza um catálogo com produções já emitidas no canal generalista, além de conteúdos exclusivos.
Já nos Estados Unidos, a nova aposta audiovisual estendeu-se ao jornalismo, com o aparecimento da CNN+, um serviço de “streaming” com boletins noticiosos e documentários de cariz jornalístico.
Contudo, esta nova vertente do “on demand” está, ainda, longe de se equiparar ao sector do entretenimento.
Com as vagas de desinformação que começaram a circular “online” nos últimos anos, passou a ser necessário partilhar, com eficácia e clareza, as definições de “notícia” e de “jornalista”, para que o público consiga acompanhar as profundas transformações do mundo mediático, considerou Sabine Righetti num artigo publicado no“Observatório da Imprensa”, com o qual o CPI mantém um acordo de parceria.
Isto porque, explicou a autora, se, há dez anos, a produção noticiosa era um papel exclusivo do jornalista, que colaborava com títulos informativos, actualmente, qualquer um pode escrever um artigo, partilhando-o através das redes sociais.
Ou seja, hoje em dia, é preciso ressalvar que nem todo o utilizador da internet que partilha uma peça, de cariz informativo, pode ser considerado um jornalista. E que, por outro lado, nem todo o cidadão com actividade declarada como jornalística cumpre as normas deontológicas, confundindo-se, por vezes, com um activista.
Portanto, considera Righetti, há, agora, uma hibridização do conceito.
Por isso mesmo, definir quem é, ou não, um jornalista, é uma tarefa cada vez mais difícil de concretizar, explicou a autora. Isto porque, já nem os documentos legais são considerados válidos, perante o panorama actual.
Neste âmbito, Righetti recorda que, no Brasil, conceito de jornalismo foi definido por um decreto, de Março de 1979, que instituiu que a profissão de jornalista compreendia actividades como “redacção, condensação, titulação, interpretação, correcção ou coordenação de informação a ser divulgada” ou “comentário ou crónica, a serem partilhados através de quaisquer veículos de comunicação”.
Além disso, naquela época, a “empresa jornalística” era um elemento central da actividade. O jornalismo, então, era tudo aquilo feito nos “media” formais.
E mais: o exercício da profissão de jornalista, de acordo com a legislação, exigia o registo prévio no Ministério do Trabalho, mediante a apresentação do comprovativo de nacionalidade brasileira, do diploma de curso superior de jornalismo e da carteira de trabalho.
Em 2009, relembra a autora, o STF (Supremo Tribunal Federal) retirou a exigência do diploma para o exercício da profissão. Ainda assim, as empresas de jornalismo contratavam, na sua maioria, colaboradores especializados para fazer jornalismo.
Só que o jornalismo, continua Righetti, cada vez mais, começou a sair das “empresas jornalísticas” e ganhou outros espaços que a legislação das décadas de 1960 e 1970 jamais poderia ter previsto.
Os leitores de notícias podem dividir-se em seis categorias, dependendo das suas necessidades e interesses, concluiu um relatório do “Financial Times”, citado pelo"Laboratório de Periodismo”, cujas conclusões podem ajudar outros “media” a reter subscritores.
De acordo com o estudo, por norma, os cidadãos consultam os títulos informativos com um de seis objectivos: manterem-se actualizados, alargarem a sua contextualização sobre o mundo que os rodeia; educarem-se sobre um determinado tópico ou personalidade; divertirem-se através de artigos lúdicos ou actividades didácticas; inspirarem-se ao lerem histórias sobre alguém que superou adversidades; e seguirem as tendências do mundo ‘online’.
Assim, a fim de terem sucesso junto do público, explica o documento, os jornais devem identificar a categoria com a qual a maioria dos seus leitores se identifica, para que possam continuar a captar o seu interesse, gerando um maior número de subscrições e, consequentemente, mais receitas.
O “Financial Times” realizou esta experiência junto de três editoras distintas, ajudando-as a compreender aquilo que poderiam fazer para optimizar a interacção com o público.
A editora 1, por exemplo, concluiu que 40% dos artigos que produzia eram da categoria “actualize-me”, mas que estes geravam, apenas, 13% de visualizações de página. Por outro lado, os artigos da categoria “entretenimento” representavam 19% do total de artigos publicados, mas, geravam 43% das interacções.
Este espaço do Clube Português de Imprensa vai fechar para férias durante o mês de Agosto.
É uma opção adoptada desde o lançamento do site em Novembro de 2016.
Recorde-se que o site se divide em três grandes áreas de conteúdos, com uma coluna de opinião a cargo de jornalistas e investigadores das Ciências de Comunicação, resumos informativos e propostas de reflexão sobre as grandes questões que se colocam hoje na paisagem mediática e à função jornalística.
O site do CPI conta, ainda, com as parcerias do Observatório de Imprensa do Brasil e da Asociacion de la Prensa de Madrid, dos quais publica regularmente trabalhos de análise em diferentes perspectivas, desde a ética profissional aos efeitos das mudanças tecnológicas.
O CPI, associação reconhecida de Utilidade Pública fundada em Dezembro de 1980, integra o Prémio Helena Vaz da Silva, instituído conjuntamente com o CNC-Centro Nacional de Cultura e Europa Nostra, e lançou em 2017 o Prémio de Jornalismo da Lusofonia, em parceria com o Jornal Tribuna de Macau e a Fundação Jorge Álvares.
O Prémio de Jornalismo da Lusofonia, cuja atribuição foi interrompida devido à pandemia, destina-se a jornalistas e à imprensa de língua portuguesa de todo o mundo, "em suporte papel ou digital", de acordo com o regulamento.
Ao concluir mais um ciclo de actividade do Clube e do site em particular, é muito gratificante saber que, apesar dos sobressaltos e das incertezas que afectam os media, o número de frequentadores habituais deste espaço tem vindo sempre a aumentar e a consolidar-se, designadamente, na sua visibilidade internacional, medida pela Google Analytics.
Aos associados, amigos e visitantes deste site o CPI deseja boas férias! E até Setembro.